sábado, 1 de janeiro de 2011

[CINEMA] Comédia italiana "O Primeiro que Disse" ironiza preconceitos contra os gays

Sair ou não do armário, eis a questão para Tommaso Cantone (Riccardo Scamarcio), protagonista da comédia italiana "O Primeiro que Disse". Um dos herdeiros de um pastifício tradicional em Lecce, sul da Itália, há muito tempo Tommaso vive em Roma. Segundo pensam os pais, estuda Administração e logo deve voltar para ocupar seu posto na empresa, casar e ter filhos.



Na verdade, o jovem estuda literatura, vive com o namorado, Marco (Carmine Recano) e tudo o que quer da vida é tornar-se escritor. Aproveita uma viagem de volta para tentar resolver o impasse, contando a verdade à família e vivendo feliz longe dela - já que acredita que sua confissão implicará ser expulso do lar paterno.
Tommaso anuncia seus planos ao irmão, Antonio (Alessandro Preziosi), que há anos administra a empresa com o pai. É com surpresa, no entanto, que Tommaso assiste ao irmão anunciar a sua homossexualidade primeiro, no jantar que era para ser a sua revelação.



O pai, Vincenzo (Ennio Fantastichini), passa mal, segue-se um pequeno escândalo. Tommaso vê-se no incômodo papel de continuar bancando o "filho certinho" que fica obrigado, daí em diante, a conduzir a empresa.

A viagem de libertação vira uma armadilha pois Tommaso acha que, se levasse adiante seu plano, mataria o pai, sulista e conservador e, quem sabe, também a mãe carola (Lunetta Salvino). O rapaz passa a trabalhar no pastifício, que neste momento está recebendo novos sócios, os Brunetti, tendo à frente a bela Alba (Nicole Grimaudo).

O pai não esconde o quanto gostaria que Tommaso e Alba se casassem - mas Alba não é tão cega quanto Vincenzo. Ela até se torna amiga e confidente de Tommaso, já que os dois não se largam, por conta da total inexperiência do rapaz nos negócios. O futuro do romance com Marco, que telefona com frequência, no entanto, parece incerto.

O roteiro, de autoria do diretor Ferzan Ozpetek ("Um Amor quase Perfeito", "A Janela da Frente") e Ivan Cotroneo, cria uma crônica familiar com riqueza de detalhes e personagens ricos em nuances, além de bastante divertidos. Vários deles apresentam uma vertente dramática, caso da avó (Ilaria Occhini), cuja história romântica passada justifica uma percepção mais aguda e liberal dos problemas que afligem os netos.

No final, está em foco a boa e velha famiglia italiana tradicional, seu conservadorismo atávico, apesar do grande afeto, e sua cegueira para perceber aquilo que acontece debaixo do próprio nariz.

Nada mais eloquente dessa falta de noção da realidade do que a reação do clã Cantone diante da visita-surpresa de um animado grupo de amigos gays de Tommaso - inclusive Marco -, que ameaça a todo instante implodir o jogo de conveniências que aprisionou o herdeiro.

A chave dramática, porém, é mantida leve. A intenção maior de "O Primeiro que Disse" é irônica, doce e promete diversão.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

Fonte: Uol Cinema

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